Monday, October 11, 2010

O limbo do sentimento ou o melhor e o pior de um mundo.


Às vezes penso, o quão engraçado será trabalhar num aeroporto.
Caras novas todos os dias, novos conhecimentos, que vão e vêm tão rapidamente que mal dá tempo para sequer tecer uma ferida, ou criar uma erupção cutânea.
Poder passar os dias a fantasiar sobre vidas alheias, tentar adivinhar o que fazem, os seus interesses, os pequenos pormenores que os deixam felizes ou que os aborrecem, as suas amarguras, as suas tristezas, o seu propósito de vida, o berço em que foram criados...
Enfim... colorir as sombras (que por mim eventualmente passariam, se ali trabalhasse), com as cores que eu as pinto.
Depois penso, na quantidade de energias e sentimentos que circulam naquele espaço.
As chegadas. A ansiedade, a saudade, a alegria, o amor, o desejo, a paixão, os sorrisos, os choros de felicidade, os abraços, os beijos, os apertos de mão..
As partidas. A ansiedade, a saudade, a alegria, a tristeza, a saudade, os sorrisos nervosos, os choros, os abraços, os beijos, os apertos de mão, os choros, as saudades, o medo.
De um modo global, focar o olhar de "explorador de vidas", apenas em partidas e chegadas mais intensas.
Viver ali a minha telenovela. Assumir as vidas como minhas, as emoções como minhas.
Assumi-las, chorá-las, quer de tristeza, quer de alegria.
Encher-me com isso, como se de um largo copo de café bem quente se tratasse.
Uma emoção reconfortante.
Não há cá espaço para um sentimento de médio valor no meio destas pessoas.
Não há insensibilidades, não há friezas. Nem nos cafés há gelo.
Os olhos são o espelho da alma, não é o que dizem?
Ler tudo isso, e sentir o pior e o melhor.
Não há limbo. Não há limbo no aeroporto. Não há meios termos. E é horrível.
Não gostaria de as ver todos os dias.
Não gostaria de viver nestes dois mundos todos os dias, e sentir que não há um piso mais estável, em que a ignorância, e o só estar, existe.

Fosse eu poeta, fosse eu pintor, fosse eu músico, fosse eu artista.. se calhar tinha ali matéria-prima. Mas não.

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