Friday, April 26, 2013

A beleza chora até morrer

A beleza é muitas coisas.
A beleza é icónica, é utópica, é única, é rara, é inconstante.
A beleza é fútil, é mágica, é felicidade, é dor, é vida e morte.
A beleza é um ingrediente que alimenta muitas pessoas, muitas emoções, muitas ideias e sacrifícios.
A beleza é dissecada até ao mais pequeno detalhe da sua existência, é julgada pelo bem e pelo mal, pelo cego e pelo visionário.
A beleza vive num constante limbo que não a deixa somente ser ou algo positivo, ou algo negativo.
A beleza tem que se transformar tal qual um camaleão de forma a se adaptar a todas as situações.
A beleza vive constantemente no meio campo do que é o mau e o bom, o certo e o errado, o perfeito e o imperfeito.
A beleza é usada e abusada por quem menos gosta e mais abomina.
A beleza é um boneco que salta de mãos em mãos, de cabeça em cabeça, de papel em papel.
E o papel da beleza é trazer-nos um sorriso quando o peso da realidade apaga os nossos sonhos.
E é com este peso que ela tem que se apoiar numa balança e pular, pular, pular, até fazer com que o seu peso domine esta máquina imaginada pelo homem.
É este peso que lhe custa.
É este peso que a faz sofrer.
É este peso que faz com que as suas lágrimas caiam em vão, como chuva que cai no chão, sem nenhum propósito ou usufruto.
À beleza doem-lhe os ossos porque são magros e consistentes e têm um peso em cima deles muito difícil de suportar.
Dói-lhe a cabeça porque nunca sabe em que grupo se há de encaixar, a quem há de agradar ou fazer feliz.
A beleza está em todo o lado.
E quando consegue atingir a paz de haver um par de olhos que não a consegue ver, aparece outro que a tira lá do fundo e a ergue num pedestal.
A beleza não suporta a dimensão com que é venerada e esconde-se em todos os cantos, acabando inevitavelmente, contra o seu querer, por ser descoberta.
A beleza sonha em ser um objecto, um animal irracional, pois odeia ser uma palavra, um conceito, com um poder estonteante.
A beleza é como uma fénix que renasce das cinzas e se torna imortal mesmo quando o mundo acaba e explode em partículas estreladas que embelezam o céu.

Tuesday, April 09, 2013

A vida nunca tem um sentido singular, mas sim plural.

Há quem diga que a vida começa às segundas-feiras.
"Hoje é que é. Hoje vou começar tudo do princípio, organizar-me e fazer tudo o que quero."
Há quem diga que hoje é o primeiro dia do resto das suas vidas, mas isso para um ávido fã de Sérgio Godinho torna-se penoso, pois só passando noites em claro, é que o primeiro dia do resto das suas vidas se torna maior que as ditas vinte e quatro horas.
Há a vida socialmente aceitável em que amamos a nossa família e somos criados junto dela, tenha ela a forma que tiver, e a vida em que anseamos por ter uma nova família. Depois há uma nova vida junta dessa nova família que temos.
Há também quem comece uma nova vida a partir do momento em que vê nascer a sua primeira cria, ou vê morrer o seu primeiro progenitor, um grande amigo ou um grande amor.
Há ainda quem sofra uma grande mudança de visual ou de localização e diga que vai mudar de vida.
Há também doenças que nos mudam a vida, vivências, experiências, dissabores.
Há a vida dentro do trabalho perante o olhar curioso de quem só ali nos conhece e nos tenta julgar fora do mesmo, e há aqueles rasgos de vida que mostramos aos mesmos nas breves pausas que tomamos dentro do horário de trabalho, que lhes dá uma percepção sobre o que poderá ser a nossa vida embora seja uma achega muito pequena e provavelmente imparcial do que é na realidade a nossa vida.
Depois há a vida que se sonha em ter, há a vida que se vive nos sonhos e ainda a vida que se realmente tem. Esta última divide-se ainda em mais duas vidas: uma é a vida como a vemos, como a sentimos, como a percebemos, como a queremos; a outra é como mostramos como a vemos, como a sentimos, como a percebemos, como a queremos. E estas duas últimas são sempre muito difíceis de explicar e de viver, pois as nossas vozes interiores têm um dialecto que para todos os outros comuns mortais é considerado como extraterrestre e por vezes até por nós próprios.
Posto isto, torna-se difícil dentro de todas as vidas que temos, escolher uma para documentar.
Principalmente, quando se é "jovem" (insira aqui a designação para esta palavra que melhor lhe convir) e maior parte da nossa vida ter sido maioritariamente vivida em sonhos. Até porque tomar uma decisão é algo que pode demorar uma vida.
 
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