Thursday, June 02, 2016

Sangro do nariz

Peguei no filtro e pû-lo na boca.
Peguei na mortalha e aconcheguei-a na palma da minha mão esquerda.
Com alguns dos dedos da minha mão direita abri o saco de tabaco e pousando-o sobre o meu colo consegui ter acesso aos seus finos fios, que desfiz para a cama de papel que jazia na minha mão esquerda.
Para lá, para cá. Em movimentos contínuos e algo descoordenados, consegui formar um tubo cancerígena que depois elevei em direcção aos lábios e lambi.
Lambi de uma ponta à outra orgulhosamente.
Dei o meu melhor, estou certa.
Ouvia as suas unhas a bater no teclado durante este processo todo.
Coloquei o cigarro já feito entre o dedo médio e o anelar, e como que com desprezo estendi-lhe o seu veneno.
Ela estendeu-me os dedos que podia.
Num desprendimento desse olhar de desprezo com a realidade, arrancou-me suavemente o cigarro das mãos e sorveu-o, pousando-o de seguida no cinzeiro.
Ele olhou para mim, mostrando-me as suas mantas cobertas de sangue.
O tubo cancerígena nunca poderia vencer o maior veneno que havia corrompido o seu ser.
Ela.
 
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