Wednesday, March 25, 2015

Aspirações expiradas

No primeiro dia do equinócio da Primavera resolvi descer de terras mouras até ao largo Manuel da Fonseca, bebericar um chá, fumar uns cigarros e escrever na paz do Senhor.
Esqueci-me foi que neste primeiro dia não só brotam os botõezinhos de rosa e não são só as andorinhas que por aí se pavoneiam.
Dou por mim numa sexta-feira perto das 17h parecendo que já são perto das 22h e que a super-lua fez efeito, até porque o pátio está cheio de aves raras e cães a uivar.
Sou um lobo solitário de tecnologia enfiada nos ouvidos, observado pelo octogenário que guarda o pátio tão bem como a comida que tem há vários dias nas bochechas.
Já não existem espaços cheios em Lisboa que estejam vazios de vida.
Ou se calhar foi a vida que renasceu hoje e levou os restos mortais da cidade ao seu próprio entrudo que decorreu na semana passada.
Finda assim mais uma semana e com ela este meu cigarro. 

Friday, March 13, 2015

A minha casa está vazia.


O amor da minha vida faria dezanove anos hoje.
Faz um ano e pouco mais de um mês que me deixou.
E eu não a queria deixar.
Dói tanto que nem as palavras consigo vomitar.
Já as escrevi mas não chegavam.
Não se percebe esta matemática de um maior curto espaço de tempo sem ela ser tão mais gigante do que a vida que viveu a meu lado.
Dava os dias de sol que não gozei, e os dias de chuva em que me queixei.
Dava os dias de loucura e os de insanidade.
Dava as palavras que deitei à rua, as palavras que doei a quem não as aproveitou.
Dava a atenção que entreguei a quem a descurou.
Dava as peles que roí nas horas de ansiedade, as unhas que cortei, as dela e as minhas.
Dava o meu sangue por ela, para que pudesse circular mais um ano, e no ano que vem dava tudo outra vez.
Dava estas lágrimas que deito para encherem o seu corpo de vida, com a mesma vida linda que ela me deu.
Dava tudo, foda-se.
Era a minha desculpa para não querer envelhecer. Agora já não tenho.
Envelheçamos então.
 
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