Tuesday, November 25, 2008

confidências

vasculhando entre velhos papéis neste antro onde durmo, encontrei um postal que me fora enviado em outros tempos. 1998, penso.
nele, entre tantas outras coisas vem um P.S. que diz o seguinte:
"não penses demais nas coisas: sente-as."

Monday, November 17, 2008

ode às taínhas

suja como a taínha.
essa que não me compreende, lembras-te?
eu suja como a taínha, e ele?
puro.
do mais puro que já conheci.
não o posso sujar.
quero-me limpar mas estas escamas não me saem.
falta-me a lingua aguçada para as limpar, os dentes saudáveis para as roer.
por mais que tente, esta sujidade não sai.
esta demência não tem cura.
não me posso misturar.
é como as taínhas. não se misturam com o mar.
se há as que se misturam, então é para lá que vou. para me limpar.
mas não sei onde é.
eu bem tento falar com elas, pode ser que me ouçam.
mas nem com a demência potenciada ao máximo elas me ouvem.
limitam-se a nadar a nadar a nadar, em busca de nada. ou em busca de tudo. e não encontram. morrem.
libertam-se?
não sei.
vou continuar a nadar? não sei.
se calhar vou procurar esse tal mar.
azul, primário.
gosto demasiado de vocês para vos fazer mal.
vou nadando. boiem.

Saturday, November 15, 2008

d'O louco

Além-Tédio

Nada me espira já,nada me vive
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.
Como eu quisera, enfim d'alma esquecida,
Dormir em paz num leito d'hospital...
Cansei dentro de mim,cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.
Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.
Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu...Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!
Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.
E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes,mais esguios...

Mário de Sá Carneiro
 
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