Tuesday, October 11, 2011

Casa de espelhos


Desculpa se a tua nuvem não é a que chove sempre em cima de mim.
Desculpa não seres inteiramente aquilo que te prometeram.
Desculpa este texto não ser para ti.
Desculpa não ser uma gruta que só ecoa a tua voz.

Pensamentos hexagonais são os que me instruí a não ter.
Vivo dentro de um cubo, que às vezes se transforma num hexágono, e ambos vivem dentro de um círculo.
Esse hexágono tem uma porta giratória, que tal como as convencionais só gira numa direcção.
O seu suporte, agreste e calcetado, segue somente o caminho do círculo, que se situa paralelo ao vasto universo da insensatez de um quadrado maior.
O quadrado pequeno é a minha casa, o meu espaço.
Lá guardo a minha memória, os meus princípios, os meus objectivos, a minha sensatez.
Quando as portas giratórias se abrem para o hexágono, assumo o papel de capitão, mas trago sempre cascos do meu quadrado comigo.
Peço desculpa se o meu cubo não tem seis lados, como o hexágono quer impôr.
Viver nesse círculo, é algo que não me atinge, nem sei se me atingirá alguma vez.
O quadrado gigante, paralelo ao círculo, vejo-o de vez em quando - quando salto do meu quadrado directamente para o maior, e abro apenas uma fresta para entrar ar fresco.
Mas nem sempre o ar fresco é bom para a saúde.
Às vezes em demasia causa-me náuseas e comichões na garganta.
Pego então no meu saco-cama e arrasto-me para onde a minha disposição me levar.

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