Gostava que os meus sonhos fossem a minha vida.
Não para os viver, pois são caricatos ou assustadores.
Mas sim porque a minha vida são só sonhos, e estou farta de não os viver.
São iguais aos que se comem.
Doces, dá-se uma trinca, e puff.
Num instante eles desaparecem, e de repente, já estou cheia de fome.
Thursday, December 29, 2011
Wednesday, December 14, 2011
Letra k
É tipo um livro ou filme, que lemos ou vemos e com que nos identificamos.
Estou tão confusa em relação à minha identidade e ao meu propósito enquanto ser humano, que toda a gente me troca o nome.
Estou tão confusa em relação à minha identidade e ao meu propósito enquanto ser humano, que toda a gente me troca o nome.
O livro de multas
Sacou do livro de multas e voltou a autuar-se.
Cada letra, cada palavra, cada texto, uma acta.
Uma lição da professora para levar para casa por se ter portado mal.
Às vezes gostava de ter uma lente atarrachada ao livro para que pudesse fotografar o momento em que se estava a atuar.
Não era por sentir pena de si própria que se autuava. Mas sim, para relembrar mais tarde, as parvoíces em que se banhava.
Cada letra, cada palavra, cada texto, uma acta.
Uma lição da professora para levar para casa por se ter portado mal.
Às vezes gostava de ter uma lente atarrachada ao livro para que pudesse fotografar o momento em que se estava a atuar.
Não era por sentir pena de si própria que se autuava. Mas sim, para relembrar mais tarde, as parvoíces em que se banhava.
Monday, December 12, 2011
Uma anormal num pedestal
Jazia estendida, fria e sem feições.
Rasgando-lhe a carne tentavam decifrar os seus segredos.
Os ombros contavam nós infinitos, incapazes de se desmembrarem.
Nós grossos, como o peso da idade e das preocupações que não se desfaziam.
A única solução seria escavar a carne dos mesmos até se encontrar os pequenos ossos que os suportavam.
Tinha ombros tensos que caíam sobre as costas marrecas que se dobravam até aos joelhos numa tentativa de beijarem o chão.
O canal respiratório era minúsculo.
Tinha o diâmetro de uma palhinha, por ter deixado de utilizar a boca tantas vezes e utilizar somente o nariz para respirar.
Os pulmões eram negros, secos e magros, como o ar que respirava.
O coração apresentava várias escoriações e encontrava-se envolto num líquido gelatinoso em tons de ferrugem.
O estômago era uma fina película, que unia as costas com a barriga, e tinha toda uma espécie de fungos ao abandono.
O sistema reprodutor era o único que se encontrava são. Ironia.
Os pés eram chatos, mostravam-se calejados e com feridas abertas por os arrastar tentando cavar a terra que pisava.
A boca era uma miséria.
As gengivas encontravam-se desfeitas, e confundiam-se dentes com maxilares, pela ausência de uns, e presença visual em demasia dos outros.
A boca estava colada com uma viscosidade que parecia seiva.
Ao abri-la, desfez-se em pedaços. O odor era intensamente mau. Um cheiro terrível a enxofre.
Das cordas vocais só sobrava uma, resistente à sua apatia geral.
Os dedos eram velhos e enrugados, e as unhas garras amarelas, duras e fortes, nas pontas lascadas.
Após uma análise sem sucesso, taparam-na com um lençol, envolto em mistérios que não quiseram ser percebidos.
Rasgando-lhe a carne tentavam decifrar os seus segredos.
Os ombros contavam nós infinitos, incapazes de se desmembrarem.
Nós grossos, como o peso da idade e das preocupações que não se desfaziam.
A única solução seria escavar a carne dos mesmos até se encontrar os pequenos ossos que os suportavam.
Tinha ombros tensos que caíam sobre as costas marrecas que se dobravam até aos joelhos numa tentativa de beijarem o chão.
O canal respiratório era minúsculo.
Tinha o diâmetro de uma palhinha, por ter deixado de utilizar a boca tantas vezes e utilizar somente o nariz para respirar.
Os pulmões eram negros, secos e magros, como o ar que respirava.
O coração apresentava várias escoriações e encontrava-se envolto num líquido gelatinoso em tons de ferrugem.
O estômago era uma fina película, que unia as costas com a barriga, e tinha toda uma espécie de fungos ao abandono.
O sistema reprodutor era o único que se encontrava são. Ironia.
Os pés eram chatos, mostravam-se calejados e com feridas abertas por os arrastar tentando cavar a terra que pisava.
A boca era uma miséria.
As gengivas encontravam-se desfeitas, e confundiam-se dentes com maxilares, pela ausência de uns, e presença visual em demasia dos outros.
A boca estava colada com uma viscosidade que parecia seiva.
Ao abri-la, desfez-se em pedaços. O odor era intensamente mau. Um cheiro terrível a enxofre.
Das cordas vocais só sobrava uma, resistente à sua apatia geral.
Os dedos eram velhos e enrugados, e as unhas garras amarelas, duras e fortes, nas pontas lascadas.
Após uma análise sem sucesso, taparam-na com um lençol, envolto em mistérios que não quiseram ser percebidos.
Sunday, December 11, 2011
Traços direitos em dias tortos
Um traço, outro traço, outro traço..
Já fiz uns seis traços hoje, e nenhum deles me apaziguou a puta da dor de cabeça que tenho.
Enrolo mais um cigarro, bebo mais duas cervejas e meia, fecho a conta e vou p'ra casa, deixando o sorriso numa valeta qualquer e encostando a apatia na almofada.
Sete traços agora.
Já fiz uns seis traços hoje, e nenhum deles me apaziguou a puta da dor de cabeça que tenho.
Enrolo mais um cigarro, bebo mais duas cervejas e meia, fecho a conta e vou p'ra casa, deixando o sorriso numa valeta qualquer e encostando a apatia na almofada.
Sete traços agora.
Saturday, November 26, 2011
20 copos a troco de tostões depois..
Às vezes acho incrível só poder ver o mundo através dos meus olhos.
Vejo toda a gente, vejo-lhes a cara, os olhos, as expressões, etc.
Nunca vejo a minha.
Vejo a minha mão direita a escrever, a esquerda a largar a cinza do cigarro.
Os meus olhos focam tudo o resto, menos aquilo que eu quero ver.
Esta linda personagem que escreve.
Saturday, November 19, 2011
Friday, November 18, 2011
Vem com unhas afiadas
Tenho o coração a tentar rasgar-me o peito, e eu não sei com que cara lhe diga que ainda não é hoje.
Em princípio não é hoje.
Não sou eu que o dito.
Mas o gajo pula, pula, e não pára quieto.
Já não sei como o amansar, como o acalmar.
Como acalmar a inquietude dele.
Tento distraí-lo, mas quando sou eu que estou distraída, o gajo chateia-me outra vez.
Já tenho o peito todo arranhado.
Temo que um dia me rasgue o seio, só para poder espreitar cá p'ra fora, e tentar ver pelos seus próprios olhos, o que é que me prende.
Em princípio não é hoje.
Não sou eu que o dito.
Mas o gajo pula, pula, e não pára quieto.
Já não sei como o amansar, como o acalmar.
Como acalmar a inquietude dele.
Tento distraí-lo, mas quando sou eu que estou distraída, o gajo chateia-me outra vez.
Já tenho o peito todo arranhado.
Temo que um dia me rasgue o seio, só para poder espreitar cá p'ra fora, e tentar ver pelos seus próprios olhos, o que é que me prende.
Wednesday, November 16, 2011
"De onde venho, pouco importa."
"Porque é que escreves?" - perguntou-me ele.
"Porque fumas?" - perguntou-me ele.
"O chá está bom?" - perguntou-me ele.
"O que é que gostas de fazer?" - perguntou-me ele.
Apeteceu-me responder: "Gosto de fumar, beber chá e escrever. Mas isto tudo, sem ti."
Cortei a parte final e mantivémos uma conversa ridícula até eu acabar o chá e lhe virar costas, deixando-o como o encontrei.
Sozinho e confuso.
Olhe amigo, passa a dois!
"Porque fumas?" - perguntou-me ele.
"O chá está bom?" - perguntou-me ele.
"O que é que gostas de fazer?" - perguntou-me ele.
Apeteceu-me responder: "Gosto de fumar, beber chá e escrever. Mas isto tudo, sem ti."
Cortei a parte final e mantivémos uma conversa ridícula até eu acabar o chá e lhe virar costas, deixando-o como o encontrei.
Sozinho e confuso.
Olhe amigo, passa a dois!
pequenas criaturas
Dedos de criança que enrolam cigarros.
Lábios de menino, que sorvem o vinho.
Eles trazem seus sonhos, esperanças e fardos.
Eles deixam-me aqui, brincando sozinho.
Lábios de menino, que sorvem o vinho.
Eles trazem seus sonhos, esperanças e fardos.
Eles deixam-me aqui, brincando sozinho.
Tuesday, November 08, 2011
Cristina & Sónia
Tina não atinava, e Sónia não sonhava.
Entre juras de amor, trocaram beijos e promessas.
Esta é a bonita história de duas amantes que se viram separadas pela razão da incerteza.
Tina vivia de dia.
Levantava-se cedo, alimentava-se de vitaminas e namorava o sol com seu largo sorriso.
Era vivaça, queria sempre mais, porém temia sair de casa à noite, o que tornava os seus dias cada vez mais curtos.
Deixava-os afundarem-se em horas perdidas, minutos gastos, movimentos ténebres e assustadiços, sempre com receio que sua vida passasse e nada fizesse.
Enquanto ela se preocupava, o dia passava, e quando o dia passava, a noite surgia.
Sónia adorava a noite.
Sentia-se criativa, glorificava o dia passado - ainda que infortuno - e abraçava os lençóis com uma força enorme, para poder amar em descanso, o repousar de seu corpo.
Mas o corpo não queria descansar.
O corpo queria mais.
O corpo queria actas.
Actas diárias, as quais Sónia não sabia preencher.
Tal como Tina, Sónia vivia na esperança de que chegasse a noite, mas esta para que pudesse chegar outro dia, e tornasse a anoitecer.
O fardo para ambas era tal, que em horários inversos se passeavam pela cidade, em busca de sinais que pudessem acelerar ou estagnar o tempo.
Num dia em que o pôr-do-sol se atrasou, Tina e Sónia trocaram olhares.
Olhares pesados que eram iguais.
Olhares caídos que queriam conforto.
Olhares devastados, que queriam compreensão.
Foi neste horizonte que trocaram palavras, pensamentos e horas.
Entre cafés, chás e torradas, o tempo permitiu que se expusessem uma à outra.
Sónia sentia-se desgastada pelo peso de seus olhos, Tina desgastada por não os querer fechar.
Juntas caminharam dias adentro, galgando minutos que pareciam eternos, e vivendo sonos em nada efémeros.
Viviam na felicidade de terem encontrado uma alma oposta e ainda assim, gémea, que as completava.
Juntas destruiram relógios, partiram persianas, queimaram cortinados.
- Que o sol e a lua entrem em nossas casas, como a nossa luz perpetuou a noite e o dia!
Os dias corriam ferozes, as semanas comiam as tardes, e as noites sugavam os meses.
Anos passaram, e rumando à felicidade, Tina e Sónia resolvem adoptar uma criança para viver em seu mundo cromático.
Inês de seu nome, trazia com ela o aspecto frágil e cansado das mães.
Por mais sóis, luas, solstícios que se passassem, nenhum raio de luz conseguia abrir uma fresta que fosse nos lábios daquela criança.
Tina e Sónia perdiam a esperança. O que as tinha unido era agora o que as queria separar.
Inês não cria no amor entre estas duas mulheres, e comparava-as frequentemente a azeite e água. Não conseguia conceber o amor destas duas pessoas tão distintas, que separadas eram um soro auto-destruitivo tanto para uma como para outra.
Discordava de suas ideologias e criticava suas "desrotinas" diárias.
O crescimento de Inês veio desenterrar o passado de Tina e Sónia.
Os dias começavam a ser mais curtos e as noites mais compridas.
Sónia já não sonhava, e Tina desatinava.
A casa dividiu-se em duas, e Inês engravidou.
Tina deambulava pela casa de pijama o dia inteiro, raspando a caspa de seus ombros e trincando bolachas de água e sal, enquanto aquecia o seu corpo com café bem quente, esperando que o final de tarde a forçasse a deitar-se para a fazer sonhar com um dia diferente.
Sónia de pijama andava também, com luzes baixas e fones colados aos ouvidos. Uma caneca de chá numa mão, um cigarro na outra, enquanto o rímel lhe escorria olhos abaixo à espera de uma amostra de sol, para que se pudesse ir deitar, e sonhar com uma noite diferente.
Inês afastou-se de suas mães. Fez-se uma mulher saudável e trouxe ao mundo uma linda menina chamada Luz.
Viviam os dias como deviam ser vividos, e seus lábios nunca mais fecharam.
Suas mães porém, nunca mais abriram os olhos.
Esta foi a bonita história de duas amantes que se viram separadas pela razão da incerteza.
Entre juras de amor, trocaram beijos e promessas.
Esta é a bonita história de duas amantes que se viram separadas pela razão da incerteza.
Tina vivia de dia.
Levantava-se cedo, alimentava-se de vitaminas e namorava o sol com seu largo sorriso.
Era vivaça, queria sempre mais, porém temia sair de casa à noite, o que tornava os seus dias cada vez mais curtos.
Deixava-os afundarem-se em horas perdidas, minutos gastos, movimentos ténebres e assustadiços, sempre com receio que sua vida passasse e nada fizesse.
Enquanto ela se preocupava, o dia passava, e quando o dia passava, a noite surgia.
Sónia adorava a noite.
Sentia-se criativa, glorificava o dia passado - ainda que infortuno - e abraçava os lençóis com uma força enorme, para poder amar em descanso, o repousar de seu corpo.
Mas o corpo não queria descansar.
O corpo queria mais.
O corpo queria actas.
Actas diárias, as quais Sónia não sabia preencher.
Tal como Tina, Sónia vivia na esperança de que chegasse a noite, mas esta para que pudesse chegar outro dia, e tornasse a anoitecer.
O fardo para ambas era tal, que em horários inversos se passeavam pela cidade, em busca de sinais que pudessem acelerar ou estagnar o tempo.
Num dia em que o pôr-do-sol se atrasou, Tina e Sónia trocaram olhares.
Olhares pesados que eram iguais.
Olhares caídos que queriam conforto.
Olhares devastados, que queriam compreensão.
Foi neste horizonte que trocaram palavras, pensamentos e horas.
Entre cafés, chás e torradas, o tempo permitiu que se expusessem uma à outra.
Sónia sentia-se desgastada pelo peso de seus olhos, Tina desgastada por não os querer fechar.
Juntas caminharam dias adentro, galgando minutos que pareciam eternos, e vivendo sonos em nada efémeros.
Viviam na felicidade de terem encontrado uma alma oposta e ainda assim, gémea, que as completava.
Juntas destruiram relógios, partiram persianas, queimaram cortinados.
- Que o sol e a lua entrem em nossas casas, como a nossa luz perpetuou a noite e o dia!
Os dias corriam ferozes, as semanas comiam as tardes, e as noites sugavam os meses.
Anos passaram, e rumando à felicidade, Tina e Sónia resolvem adoptar uma criança para viver em seu mundo cromático.
Inês de seu nome, trazia com ela o aspecto frágil e cansado das mães.
Por mais sóis, luas, solstícios que se passassem, nenhum raio de luz conseguia abrir uma fresta que fosse nos lábios daquela criança.
Tina e Sónia perdiam a esperança. O que as tinha unido era agora o que as queria separar.
Inês não cria no amor entre estas duas mulheres, e comparava-as frequentemente a azeite e água. Não conseguia conceber o amor destas duas pessoas tão distintas, que separadas eram um soro auto-destruitivo tanto para uma como para outra.
Discordava de suas ideologias e criticava suas "desrotinas" diárias.
O crescimento de Inês veio desenterrar o passado de Tina e Sónia.
Os dias começavam a ser mais curtos e as noites mais compridas.
Sónia já não sonhava, e Tina desatinava.
A casa dividiu-se em duas, e Inês engravidou.
Tina deambulava pela casa de pijama o dia inteiro, raspando a caspa de seus ombros e trincando bolachas de água e sal, enquanto aquecia o seu corpo com café bem quente, esperando que o final de tarde a forçasse a deitar-se para a fazer sonhar com um dia diferente.
Sónia de pijama andava também, com luzes baixas e fones colados aos ouvidos. Uma caneca de chá numa mão, um cigarro na outra, enquanto o rímel lhe escorria olhos abaixo à espera de uma amostra de sol, para que se pudesse ir deitar, e sonhar com uma noite diferente.
Inês afastou-se de suas mães. Fez-se uma mulher saudável e trouxe ao mundo uma linda menina chamada Luz.
Viviam os dias como deviam ser vividos, e seus lábios nunca mais fecharam.
Suas mães porém, nunca mais abriram os olhos.
Esta foi a bonita história de duas amantes que se viram separadas pela razão da incerteza.
Foste aos treinos? RM
Falar da boca p'ra fora,
assim espalho a minha dôr.
O que eu pensei outrora,
ouvidos de mercador.
Entra a cem sai a duzentos,
haja alguém que não se queixe.
Assim são meus pensamentos,
pela boca morre o peixe.
assim espalho a minha dôr.
O que eu pensei outrora,
ouvidos de mercador.
Entra a cem sai a duzentos,
haja alguém que não se queixe.
Assim são meus pensamentos,
pela boca morre o peixe.
Friday, October 14, 2011
O esquilo bochechudo
Sou um esquilo.
Sou um esquilo pequeno, de fraca figura.
Trepo às árvores e corro sem olhar para trás.
Corro irracionalmente e inconscientemente em busca de mais e mais comida.
Não sou um esquilo gordo, pois apesar de comer muito, tudo o que como é-me ameaçado como vómito, e expelido em fezes.
As minhas bochechas enormes armazenam toda a comida que não aprecio, mas que não consigo deixar de sorver.
O que mais gosto é aspirado instantaneamente para o meu estômago, e todo o restante - acre, amargo, podre, sem sabor - fica reservado durante muito tempo nas minhas bochechas.
Bem que tento mastigar com a pouca força que tenho, mas de pouco ou nada me vale.
Sou um esquilo que sabe escrever.
Sou um esquilo pequeno, de fraca figura.
Trepo às árvores e corro sem olhar para trás.
Corro irracionalmente e inconscientemente em busca de mais e mais comida.
Não sou um esquilo gordo, pois apesar de comer muito, tudo o que como é-me ameaçado como vómito, e expelido em fezes.
As minhas bochechas enormes armazenam toda a comida que não aprecio, mas que não consigo deixar de sorver.
O que mais gosto é aspirado instantaneamente para o meu estômago, e todo o restante - acre, amargo, podre, sem sabor - fica reservado durante muito tempo nas minhas bochechas.
Bem que tento mastigar com a pouca força que tenho, mas de pouco ou nada me vale.
Sou um esquilo que sabe escrever.
Tuesday, October 11, 2011
Casa de espelhos
Desculpa se a tua nuvem não é a que chove sempre em cima de mim.
Desculpa não seres inteiramente aquilo que te prometeram.
Desculpa este texto não ser para ti.
Desculpa não ser uma gruta que só ecoa a tua voz.
Pensamentos hexagonais são os que me instruí a não ter.
Vivo dentro de um cubo, que às vezes se transforma num hexágono, e ambos vivem dentro de um círculo.
Esse hexágono tem uma porta giratória, que tal como as convencionais só gira numa direcção.
O seu suporte, agreste e calcetado, segue somente o caminho do círculo, que se situa paralelo ao vasto universo da insensatez de um quadrado maior.
O quadrado pequeno é a minha casa, o meu espaço.
Lá guardo a minha memória, os meus princípios, os meus objectivos, a minha sensatez.
Quando as portas giratórias se abrem para o hexágono, assumo o papel de capitão, mas trago sempre cascos do meu quadrado comigo.
Peço desculpa se o meu cubo não tem seis lados, como o hexágono quer impôr.
Viver nesse círculo, é algo que não me atinge, nem sei se me atingirá alguma vez.
O quadrado gigante, paralelo ao círculo, vejo-o de vez em quando - quando salto do meu quadrado directamente para o maior, e abro apenas uma fresta para entrar ar fresco.
Mas nem sempre o ar fresco é bom para a saúde.
Às vezes em demasia causa-me náuseas e comichões na garganta.
Pego então no meu saco-cama e arrasto-me para onde a minha disposição me levar.
Monday, October 03, 2011
A velhice é um estado de espírito
Velhos prematuros, são aqueles que não conseguem compreender o ambiente ao seu redor ou conceber a verdade em que acreditam, independentemente da idade que têm.
Creio que haja casos em que estes velhos prematuros depressa se tornam em loucos.
Pecados mortais habitam e desabitam em seus corpos, como as marés. Maioritariamente imprevisíveis (ou irregulares).
Os ossos de seus corpos são de açúcar, e facilmente bamboleam e desfalecem. Quando de velhos passam a loucos, os mesmos ossos tornam-se em caramelo duro e inquebrável, nada fácil de roer e que só tendem a partir os dentes de quem os ataca, negando-lhes a verdade ou compreensão, pelas quais durante anos penaram e lutaram.
E não há velhos loucos.
Só loucos ou velhos.
Creio que haja casos em que estes velhos prematuros depressa se tornam em loucos.
Pecados mortais habitam e desabitam em seus corpos, como as marés. Maioritariamente imprevisíveis (ou irregulares).
Os ossos de seus corpos são de açúcar, e facilmente bamboleam e desfalecem. Quando de velhos passam a loucos, os mesmos ossos tornam-se em caramelo duro e inquebrável, nada fácil de roer e que só tendem a partir os dentes de quem os ataca, negando-lhes a verdade ou compreensão, pelas quais durante anos penaram e lutaram.
E não há velhos loucos.
Só loucos ou velhos.
Não é isso
Doem-me os pés, mas não é isso que atrasa o meu passo.
A camisa sobe-me, mas não é isso que faz com que a ajuste.
O cigarro sabe-me bem, mas não é isso que faz com que o devore.
O sistema de rega assalta o ruído em redor, mas não é isso que embeleza o silêncio.
A mão é ligeiramente jovem, mas não é isso que faz a caneta deixar de tombar.
A cortina está desfiada, mas não é isso que faz com que se feche.
O cansaço senta-se na sala de estar, mas não é isso que me faz querer dormir.
As pedras da calçada alimentam-me a imaginação, mas não é isso que me faz sorrir.
A minha espinha dorme o dia inteiro, mas não é isso que me mói.
É que.. eu odeio esperar.
A camisa sobe-me, mas não é isso que faz com que a ajuste.
O cigarro sabe-me bem, mas não é isso que faz com que o devore.
O sistema de rega assalta o ruído em redor, mas não é isso que embeleza o silêncio.
A mão é ligeiramente jovem, mas não é isso que faz a caneta deixar de tombar.
A cortina está desfiada, mas não é isso que faz com que se feche.
O cansaço senta-se na sala de estar, mas não é isso que me faz querer dormir.
As pedras da calçada alimentam-me a imaginação, mas não é isso que me faz sorrir.
A minha espinha dorme o dia inteiro, mas não é isso que me mói.
É que.. eu odeio esperar.
Thursday, September 29, 2011
Enquanto a vida não arrebenta
Arrancada da placenta
Pela mão que a amamenta
Nasce uma míuda sardenta
No início dos anos oitenta.
Deveras rabugenta
É banhada em água benta
Naquela Páscoa barulhenta
Feito que p'ra sempre lamenta.
Com o seu metro e cinquenta
Come pastilhas de menta
D'aventuras sedenta
O sol cumprimenta.
Quando a febre fermenta
E quando já não aguenta
Olha o corpo que a atormenta
E demolha-a na sebenta.
Pela mão que a amamenta
Nasce uma míuda sardenta
No início dos anos oitenta.
Deveras rabugenta
É banhada em água benta
Naquela Páscoa barulhenta
Feito que p'ra sempre lamenta.
Com o seu metro e cinquenta
Come pastilhas de menta
D'aventuras sedenta
O sol cumprimenta.
Quando a febre fermenta
E quando já não aguenta
Olha o corpo que a atormenta
E demolha-a na sebenta.
Wednesday, September 21, 2011
VAI A ABRIR!
Sunday, August 28, 2011
Como ninguém
Ninguém me dá o descanso e a paz, como o conforto material construído pelo homem.
Em cubículos dispendiosos, que só interessam a ociosos, olho em redor e deparo-me com ninguém.
Corpos inválidos, sem donos de si próprios, em sítios duvidosos, abanando-se como ninguém.
Mentes suportadas, por marionetistas, em corpos descrentes, pensam e agem como ninguém.
Tremo entre paragens, anseio por outras paisagens, ao longo das duas margens, enquanto flutuo como ninguém.
"O egoísmo reina!", grita-me a voz, mas eu não quero acreditar. Amo-te como ninguém.
Wednesday, August 24, 2011
Acorda-me quando deixares de falar.
Esta vista entorpecida deixa-me mal disposta, a recordar e a aperceber-me do que não quero.
Mas há dias em que se não tivesse esta vista, o dia iria ter uma performance mais confusa e entediante.
E assim são dois, contando com o factor surpresa.
Dois dias de tédio.
E dois é positivo!?
Mas há dias em que se não tivesse esta vista, o dia iria ter uma performance mais confusa e entediante.
E assim são dois, contando com o factor surpresa.
Dois dias de tédio.
E dois é positivo!?
Monday, August 08, 2011
este mundo dá-me náuseas
"Minhas entranhas são como animais de estimação mal-educados. Elas podem-se revoltar a qualquer momento sem motivo aparente, mas no final eu quase sempre consigo domá-las. Basta dar mais atenção a leitura ou cantar uma boa música."
por Mariane Montedori (ler texto integral aqui)
por Mariane Montedori (ler texto integral aqui)
Monday, August 01, 2011
Aninhava-me num monte de merda. Na boa.
(E aqui, o ponto final é o que faz mais sentido, é o que tem mais poder, é o que decide tudo. É o que dá a sentença aos braços cansados, pior que os braços cruzados. Braços moles e dormentes à espera de gangrenarem. É o que define o cansaço, é o que atropela as vírgulas, essas que se agregam nesta, naquela, e na outra, oportunidades de caminharem para a frente, como numa frase. Ele às vezes gostava de ser bem mais pesado, mais rígido, mais respeitado. Mas ele tem o mesmo peso que as suas sentenças. E acaba por se ver resumido, a um mero ponto final.)
Friday, July 22, 2011
Dores de cabeça infernais
Ele não chorava. Não sabia ou não queria, nem ele percebia.
As gerações de lágrimas que na sua cabeça habitavam, formavam uma família de gotas cada vez maior que se tornava num mar.
Um mar revoltado por se ver mudo.
Um mar frustrado por não se poder expandir.
Um mar sufocado por se ver preso.
Povoavam deprimidas entre as órbitas e o cucuruto deste ser, multiplicando-se cada vez em mais, inúmeras, lágrimas salgadas.
Os seus gritos eram ensurdecedores.
Roíam o seu caminho até à órbita, na tentativa de fazer ruir a fachada da mesma.
O canal nasal ou a traqueia, ficariam a um nível muito acima ou muito abaixo.
Comunicar de outra maneira não sabiam, por isso ferir o coração estava fora de questão.
Portanto já que dali não conseguiam sair, a única forma que tinham de se manifestar era através de ruídos ensurdecedores, causados pela fúria da movimentação dos seus ventos, e pelo embate forte na fachada da órbita.
O que causava fortes enxaquecas a este ser, que não queria chorar.
As gerações de lágrimas que na sua cabeça habitavam, formavam uma família de gotas cada vez maior que se tornava num mar.
Um mar revoltado por se ver mudo.
Um mar frustrado por não se poder expandir.
Um mar sufocado por se ver preso.
Povoavam deprimidas entre as órbitas e o cucuruto deste ser, multiplicando-se cada vez em mais, inúmeras, lágrimas salgadas.
Os seus gritos eram ensurdecedores.
Roíam o seu caminho até à órbita, na tentativa de fazer ruir a fachada da mesma.
O canal nasal ou a traqueia, ficariam a um nível muito acima ou muito abaixo.
Comunicar de outra maneira não sabiam, por isso ferir o coração estava fora de questão.
Portanto já que dali não conseguiam sair, a única forma que tinham de se manifestar era através de ruídos ensurdecedores, causados pela fúria da movimentação dos seus ventos, e pelo embate forte na fachada da órbita.
O que causava fortes enxaquecas a este ser, que não queria chorar.
Thursday, July 07, 2011
"Tudo vale a pena quando a alma não é pequena."
Hmm.. não creio, meu caro!
Isto é tudo muito bonito de se dizer, mas sejamos prácticos.. não é bem assim.
A minha alma é grande, e não vale a pena pisar um cagalhão p'ra voltar a saber que cheira mal e vai custar a sair.
Se não do sapato, pelo menos da memória.
Isto é tudo muito bonito de se dizer, mas sejamos prácticos.. não é bem assim.
A minha alma é grande, e não vale a pena pisar um cagalhão p'ra voltar a saber que cheira mal e vai custar a sair.
Se não do sapato, pelo menos da memória.
Sunday, June 19, 2011
O pão que o dia(bo) amassou
Era de pão, a cama onde o diabo se deitou.
Pão que fez, e amassou.
O pão que o diabo amassou, pû-lo na sopa.
E foi o melhor momento do meu dia inteiro.
Sentir o quente na boca de quem não queria comer.
Sentir o pão duro com dias, quase meses, a definhar dentro da sopa, como um corpo dormente a ser absorvido pelo universo.
Curioso serem hábitos de anos, que facilmente se tornam comparáveis a acções duvidosas de razão e certezas.
Comi o pão que o diabo amassou.
O diabo ignorante, que nem sequer era padeiro.
Quase se queimava seriamente a pôr a fornada ao lume.
Mas não se queimou, só ficou com uma ferida enorme que ardeu para sempre.
O pão estava mal cozido.
Se calhar por isso é que a sopa não me caíu bem.
Pão que fez, e amassou.
O pão que o diabo amassou, pû-lo na sopa.
E foi o melhor momento do meu dia inteiro.
Sentir o quente na boca de quem não queria comer.
Sentir o pão duro com dias, quase meses, a definhar dentro da sopa, como um corpo dormente a ser absorvido pelo universo.
Curioso serem hábitos de anos, que facilmente se tornam comparáveis a acções duvidosas de razão e certezas.
Comi o pão que o diabo amassou.
O diabo ignorante, que nem sequer era padeiro.
Quase se queimava seriamente a pôr a fornada ao lume.
Mas não se queimou, só ficou com uma ferida enorme que ardeu para sempre.
O pão estava mal cozido.
Se calhar por isso é que a sopa não me caíu bem.
Friday, June 17, 2011
O grande poder do olho de vidro e do cubo de gelo.
As pestanas.
São longas pestanas, em olhos de vidro.
Pestanas que correm o dia inteiro com a pressa que chegue a noite para que possam descansar.
Passam dias inteiros sem ver os seus próprios pés, pois a gravidade não lhes permite fazê-lo antes do corpo portador se decidir a descansar.
As lágrimas.
São lágrimas em vão.
É chuva que cai no chão.
Não se aproveitam, não se reciclam.
Abraçam-se ao globo ocular, escorregando de seguida.
Repetem o procedimento vezes sem conta.
Talvez por esquecimento, talvez por teimosia.
Talvez por quererem acreditar que é possível agarrá-lo e não voltar a cair.
O olho de vidro co-habita com o corpo humano.
Apesar de se tornar parte dele, marca sempre a sua posição, tal qual um cubo de gelo.
Frio, imóvel, intacto, alheio a movimentos à sua volta.
Indiferente aos restantes habitantes do mesmo, de modo a que a sua não manifestação de sentimentos ou opiniões, não se possam virar contra ele como uma faca de dois gumes, e que isto faça com que o corpo o cuspa para fora.
Limita-se a estar, e a viver no seu egoísmo.
Faz-me crer que tudo o que é irracional e inanimado é facilmente comparável à suposta identidade, individualidade, independência e racionalidade do ser humano.
São longas pestanas, em olhos de vidro.
Pestanas que correm o dia inteiro com a pressa que chegue a noite para que possam descansar.
Passam dias inteiros sem ver os seus próprios pés, pois a gravidade não lhes permite fazê-lo antes do corpo portador se decidir a descansar.
As lágrimas.
São lágrimas em vão.
É chuva que cai no chão.
Não se aproveitam, não se reciclam.
Abraçam-se ao globo ocular, escorregando de seguida.
Repetem o procedimento vezes sem conta.
Talvez por esquecimento, talvez por teimosia.
Talvez por quererem acreditar que é possível agarrá-lo e não voltar a cair.
O olho de vidro co-habita com o corpo humano.
Apesar de se tornar parte dele, marca sempre a sua posição, tal qual um cubo de gelo.
Frio, imóvel, intacto, alheio a movimentos à sua volta.
Indiferente aos restantes habitantes do mesmo, de modo a que a sua não manifestação de sentimentos ou opiniões, não se possam virar contra ele como uma faca de dois gumes, e que isto faça com que o corpo o cuspa para fora.
Limita-se a estar, e a viver no seu egoísmo.
Faz-me crer que tudo o que é irracional e inanimado é facilmente comparável à suposta identidade, individualidade, independência e racionalidade do ser humano.
Thursday, May 19, 2011
a ferida de Sara
Sara era saudosista.
Sara andava sempre nua, e por isso apanhava maleitas. Mal se curava de uma, adoecia logo de outra.
Acontecia muitas vezes ter o bom de uma doença (a febre quente, e os mimos que recebia), e o mau de estar de boa saúde (não se poder queixar, sentindo-se insatisfeita com isso).
Sara não parou de crescer. Crescia e mingava conforme o tempo; conforme os apeteceres do seu corpo; conforme as suas crenças, conforme as palpitações do seu corpo.
Sara amou muito. Também odiou, também ressentiu. Mas como tudo na vida dela, o ódio, os ressentimentos, o rancor, todos eles eram também visitantes passageiros.
Sara tinha sonhos perpétuos. Muitos reais, muitos ficcionais.
Sara era um livro aberto, que só se fechava quando um capítulo era aborrecido, ou o pó não a deixava ler-se.
Sara respirava como um peixe fora de água. Sofregamente mas a um ritmo tremendamente lento. Abria a boca muito devagar e passavam-se meses, e quando a fechava, já cansada, outros tantos haviam passado.
Sara tinha goelas rugosas, lascadas, moldadas pelo tempo, que embora a preservasse de muitas maneiras, não deixava de passar por ela, castigando-a, como o resto dos mortais.
Mas Sara nunca definhava.
Sara era como um vírus.
Sara era o momento em que a língua do felino toca na sua própria pele vezes e vezes sem conta.
Sara estava enferma de tanto beber o suco da vida.
Sara desfazia-se como um copo de açúcar. Quando lhe tocavam desfazia-se em ardor.
Sara pecava e traía.
Sara era hiperactiva.
Sara tinha um coração que batia tão depressa como um pequeno mamífero em apuros, mas que era tão grande como o de um animal de grande porte.
Sara era um animal, racional e irracional. Sentia dor prazer, e um misto de culpa com ignorância.
Sara nunca estava bem, a sua ferida era enorme.
Sara tinha um tique nervoso. Abria e fechava o porta-moedas incessantemente.
Sara comia as suas próprias crostas, na esperança de ficar melhor, de esquecer o propósito das mesmas. Do porquê de ali se terem instalado.
Sara não era conformista, mas gostava de ser. Ela acreditava que talvez assim, a sua ferida sarasse.
Monday, May 16, 2011
Eu, breu.
"Tantos carros e nenhum me passa por cima."
Estava tão aborrecido que voltou para casa.
Por lá, o tédio continuava a dominar o ar, embora tivesse deixado as janelas todas abertas de forma a arejar a casa.
Esticou-se no sofá.
De barriga para cima, fixava o tecto, na esperança de ser embalado pelo cansaço de tentar manter os olhos abertos o máximo tempo possível sem os piscar.
Há muito tempo que não estava assim tão aborrecido.
Nada o animava, nada fazia o tempo passar mais depressa.
Na verdade, o dia ao invés de avançar, parecia ficar cada vez mais claro.
"Que tédio." - pensou.
Já havia tomado banho duas vezes, assaltado a sua despensa outras tantas.
A rua não o aliciava, as pessoas não o seduziam.
A televisão e o computador só mostravam o sinal de estática, diziam-lhe os olhos dele.
Enfadonhado começou a observar o seu corpo.
Cada cicatriz, cada sinal, cada veia, cada pêlo, cada desnível de carne, tudo era novo para ele.
Nunca antes havia tomado tanto tempo a olhar para o seu simples corpo.
As peles soltas, os pêlos encravados, os pontos negros, as marcas do sol e da velhice, a marca do relógio, a profundidade do seu umbigo..
Aí começou a indagar sobre o seu interior.
Se conseguisse ver o seu interior, talvez viesse a descobrir um novo mundo e por certo que este monstruoso aborrecimento iria acabar, e a noite iria chegar mais depressa.
Mas tal feito não se cria concebível.
Fechava os olhos mas só via um fundo preto. Às vezes umas listas brancas, mas maioritariamente, tudo preto.
Fechar os olhos obviamente que não iria ajudar. Mas talvez com eles abertos..
Tentou espremer a face o mais perto que conseguia para perto da nuca, mas a única coisa que acontecia, era os seus olhos focarem o nariz, e por vezes conseguir ver um pouco a saliência das suas maçãs do rosto.
"Isto assim não está a resultar. E se abrir a boca?"
Não sendo belfo, seria complicado, mas tentou fazê-lo.
Pegando no lábio inferior, começou a puxá-lo para longe da sua cara, mais longe, mais longe, mais longe, até o fazer tão grande que cobriu a cara!
Olhando para baixo viu tudo escuro, tudo preto. Nem listas brancas havia.
"Deve ser isto a que chamam breu".
Monday, May 09, 2011
um dia pego fogo a esta merda toda
Acendi um fósforo, e peguei fogo a tudo.
Começou tudo a arder.
A casa, as folhas, os meus pés, as minhas unhas, o meu cabelo, a minha cama.
A minha cama parecia um poço de sangue gaseificado.
Longas chamas atingiam o tecto e fugiam para consumir o resto do quarto.
E um silêncio brutal.
Um silêncio tão brutal e um ar tão apático de todos os "objectos" animados e inanimados que o mundo inteiro ao saber desta história, passou a colorir em sua mente, a palavra silêncio de côr preta.
Deixou de haver ar, mas também não sufoquei.
Lentamente observei a tridimensionalidade a desfazer-se em cinzas.
Inspirei tão fundo que senti os pulmões a estalarem e o meu corpo a ficar "desorganizado", tornando-se numa carcaça oca, em que só circulava a aragem fresca de tal cenário.
Tremendo alívio!
Foi tão bom.
Começou tudo a arder.
A casa, as folhas, os meus pés, as minhas unhas, o meu cabelo, a minha cama.
A minha cama parecia um poço de sangue gaseificado.
Longas chamas atingiam o tecto e fugiam para consumir o resto do quarto.
E um silêncio brutal.
Um silêncio tão brutal e um ar tão apático de todos os "objectos" animados e inanimados que o mundo inteiro ao saber desta história, passou a colorir em sua mente, a palavra silêncio de côr preta.
Deixou de haver ar, mas também não sufoquei.
Lentamente observei a tridimensionalidade a desfazer-se em cinzas.
Inspirei tão fundo que senti os pulmões a estalarem e o meu corpo a ficar "desorganizado", tornando-se numa carcaça oca, em que só circulava a aragem fresca de tal cenário.
Tremendo alívio!
Foi tão bom.
Thursday, April 21, 2011
trilhos
"It was one of those days when it's a minute away from snowing and there's this electricity in the air, you can almost hear it. And this bag was, like, dancing with me. Like a little kid begging me to play with it. For fifteen minutes. And that's the day I knew there was this entire life behind things, and... this incredibly benevolent force, that wanted me to know there was no reason to be afraid, ever. Video's a poor excuse, I know. But it helps me remember... and I need to remember... Sometimes there's so much beauty in the world I feel like I can't take it, like my heart's going to cave in."
in American Beauty
in American Beauty
Wednesday, April 13, 2011
Wednesday, March 23, 2011
passos largos e descompensados
Os blocos cimentados com suor, fazem agora suar quem ama.
As estradas calcetadas à torreira do sol, abrem espaço para o sol aquecer os apaixonados.
Salas construídas por solitários, guardam momentos do passado dos presentes, para sempre recordarem.
Cimentam-se pessoas do passado, para um futuro risonho, mas em que o passado teimar em rasgar sorrisos tortos.
Uma data de coisas fantásticas, e incongruências esquisitas.
É o que se vê simplesmente na rua, de um trajecto do trabalho para casa.
É no que se pensa quando se faz tempo para se começar a fazer qualquer coisa.
As estradas calcetadas à torreira do sol, abrem espaço para o sol aquecer os apaixonados.
Salas construídas por solitários, guardam momentos do passado dos presentes, para sempre recordarem.
Cimentam-se pessoas do passado, para um futuro risonho, mas em que o passado teimar em rasgar sorrisos tortos.
Uma data de coisas fantásticas, e incongruências esquisitas.
É o que se vê simplesmente na rua, de um trajecto do trabalho para casa.
É no que se pensa quando se faz tempo para se começar a fazer qualquer coisa.
A prodigiosa jogadora de futebol
- Dizes que não tenho pés de gato para escalar esta montanha.
Mas eu nem sequer sei se a vou subir. Eu só estava a ver.
Dizes que como sempre as mesmas palavras, mas são as únicas que sei cantar, assim como tu, que pintas a tua dôr, sempre do mesmo tom.
Dizes que estou contente com algo que não tenho, mas para mim já ter esse sonho, é meio pedaço trincado.
Dizes que sou desarrumada, que deixo tudo espalhado, mas tu és igual.
Só que tu não deixas que ninguém o veja.
Dizes que ganhei esse vício horroroso de cuspir na água, mas tu só não cospes porque nunca abres a boca.
Eu digo-te: só gostava que deixasses de me acordar às três da manhã para me apontar um dedo que nem sequer é palpável.
És tão parecida com a minha mãe.
- Ai! Dôr de cabeça? Jogo sujo..
Friday, March 11, 2011
Wednesday, March 09, 2011
não me deixes, nunca
Adoro ver-te correr.
A forma como deslizas neste chão branco, fugindo e atropelando as sombras com as tuas pequenas, rápidas, mas concentradas passadas de côr negra, é fascinante.
Todos os dias me contas uma história nova.
Todos os dias me deixas seguir-te.
Por bons e maus caminhos, mas nunca te esqueces de mim.
Viras a página, mas levas-me contigo.
Corre, corre, corre. Viaja!
Pousas delicadamente nesse chão: branco; sempre limpo; novinho; a estrear; só para ti.
Fazes dele o que queres. Eu em ti não mando nada.
És a única que comanda os meus pensamentos, o que realmente quero dizer.
Ser-te-ei fiel, enquanto a lucidez me permitir.
A forma como deslizas neste chão branco, fugindo e atropelando as sombras com as tuas pequenas, rápidas, mas concentradas passadas de côr negra, é fascinante.
Todos os dias me contas uma história nova.
Todos os dias me deixas seguir-te.
Por bons e maus caminhos, mas nunca te esqueces de mim.
Viras a página, mas levas-me contigo.
Corre, corre, corre. Viaja!
Pousas delicadamente nesse chão: branco; sempre limpo; novinho; a estrear; só para ti.
Fazes dele o que queres. Eu em ti não mando nada.
És a única que comanda os meus pensamentos, o que realmente quero dizer.
Ser-te-ei fiel, enquanto a lucidez me permitir.
Sunday, February 27, 2011
O Fogo acabou
"O Fogo acabou."
Por favor, não me digas isso.
"O Fogo a-ca-bou."
Porquê, mas porquê?
Porquê agora? Sem aviso..
Logo agora que eu mais precisava de ti.
Sem ti, não sei mais escrever.
Sem ti, este mar e vento frio perdem todo o encanto.
Sem ti, este mar e vento frio passam de reconfortantes, a demónios que lançam os seus braços e agarram a minha solidão.
Não vim para aqui para estar só.
Não me digas que o fogo acabou.
Nem às pedras da calçada me posso chorar, pois elas riem-se de mim, imóveis, irónicas, como só elas o sabem ser.
Não me digas isso, por favor.
És só tu a minha companhia.
O meu único vício, a minha única droga, não preciso de mais nada.
Não me deixes aqui, preso, agarrado aos meus pensamentos incontroláveis, que só tu sabes amenizar.
Sem ti, este quadro deixa de fazer sentido, perde a beleza.
Sem ti, perco-me nesta areia.
Sem ti, a minha vida pinta-se em tons cinzentos, de cimento.
Não quero voltar, quero ficar aqui.
Estou tão bem aqui.
Não me digas que o fogo acabou.
Mundo cruel. Sentindo-se castigado, volveu à cidade, e enterrou o momento partido, num cinzeiro cheio de beatas.
Por favor, não me digas isso.
"O Fogo a-ca-bou."
Porquê, mas porquê?
Porquê agora? Sem aviso..
Logo agora que eu mais precisava de ti.
Sem ti, não sei mais escrever.
Sem ti, este mar e vento frio perdem todo o encanto.
Sem ti, este mar e vento frio passam de reconfortantes, a demónios que lançam os seus braços e agarram a minha solidão.
Não vim para aqui para estar só.
Não me digas que o fogo acabou.
Nem às pedras da calçada me posso chorar, pois elas riem-se de mim, imóveis, irónicas, como só elas o sabem ser.
Não me digas isso, por favor.
És só tu a minha companhia.
O meu único vício, a minha única droga, não preciso de mais nada.
Não me deixes aqui, preso, agarrado aos meus pensamentos incontroláveis, que só tu sabes amenizar.
Sem ti, este quadro deixa de fazer sentido, perde a beleza.
Sem ti, perco-me nesta areia.
Sem ti, a minha vida pinta-se em tons cinzentos, de cimento.
Não quero voltar, quero ficar aqui.
Estou tão bem aqui.
Não me digas que o fogo acabou.
Mundo cruel. Sentindo-se castigado, volveu à cidade, e enterrou o momento partido, num cinzeiro cheio de beatas.
Wednesday, February 02, 2011
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