Tenho saudades de
pequenos momentos da minha infância que não me lembro de ter
vivido.
Tenho pena de não
poder viver com esta memória de adulto, as experiências de criança.
Tocar em coisas pela
primeira vez, ver sítios pela primeira vez, interagir com outro ser
humano sem ser balbuciando pela primeira vez, do meu primeiro sonho,
da minha primeira tristeza, do meu primeiro adeus.
Há muitas coisas
preciosas que as crianças vivem e que nunca, mas nunca, se vão
lembrar. Essas memórias ficarão apenas cravadas junto das rugas que
irão nascer uns anos mais tarde perto dos lábios e das cavidades
oculares.
A inocência, a curta
memória e o desprendimento que lhes assiste em tão tenra idade, não
lhes dá espaço para sonharem e viverem num “se” que
poderia haver no dia, ou momento seguinte.
Fascinar-me-ia poder
reviver um dia de praia, enquanto escoltada pelos meus pais. A
alegria de correr na areia, de mergulhar nas ondas do mar como se
fosse a melhor coisa do mundo (prazeres de que ainda desfruto com a
mesma intensidade), e brincar com outras crianças como se nos
conhecêssemos há muito tempo.
“O que estás a
fazer?”
“Um castelo que
tem uma piscina à frente.”
“Posso brincar
contigo?”
E sem mais palavras,
brincávamos a tarde inteira até que um dos nossos pais nos viria
encher a cara de creme protector, pôr um panamá na moleirinha e
comunicar-nos que não tarda nos íamos embora que já estava a ficar
tarde. Naquele momento a única coisa em que pensávamos era em fazer
uma birra daquelas pois não percebíamos o porquê de termos que ir
embora, quando estávamos no melhor sítio do mundo, a brincar com a
criança mais fixe do mundo, e o amanhã e o depois, eram conceitos
que ainda não percebíamos. Daí até começarmos a choradeira era
um instante. Depois vinha o outro pai que pegava na outra criança e
nós só dizíamos um adeus despreocupado como se apenas nos
tivéssemos cruzado na fila dos gelados ao contrário de termos
partilhado uma tarde de intimidade infantil.
Depois crescemos.
Crescemos e a nossa
inocência vai por água abaixo, os nossos conceitos ganham corpo, e
as nossas decisões face às outras crianças têm obrigatoriamente
que mudar.
Já quase ninguém se
lembra dessas tardes na praia. Já ninguém quer brincar mais a isso.
Agora queremos viver descansados e ter a nossa felicidade em ver as
nossas crianças a brincar.
Custa-me desprender
disto tudo.
Saio para a rua e
observo os olhos das outras crianças agora adultas. Brinco com elas,
e se alinharem na minha brincadeira, visto logo o meu fato-de-banho e
corro com elas até à água.
Se não as encontrar no
dia seguinte, agora sim, agarro-me aos “ses”.
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:)
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