Era de pão, a cama onde o diabo se deitou.
Pão que fez, e amassou.
O pão que o diabo amassou, pû-lo na sopa.
E foi o melhor momento do meu dia inteiro.
Sentir o quente na boca de quem não queria comer.
Sentir o pão duro com dias, quase meses, a definhar dentro da sopa, como um corpo dormente a ser absorvido pelo universo.
Curioso serem hábitos de anos, que facilmente se tornam comparáveis a acções duvidosas de razão e certezas.
Comi o pão que o diabo amassou.
O diabo ignorante, que nem sequer era padeiro.
Quase se queimava seriamente a pôr a fornada ao lume.
Mas não se queimou, só ficou com uma ferida enorme que ardeu para sempre.
O pão estava mal cozido.
Se calhar por isso é que a sopa não me caíu bem.
Sunday, June 19, 2011
Friday, June 17, 2011
O grande poder do olho de vidro e do cubo de gelo.
As pestanas.
São longas pestanas, em olhos de vidro.
Pestanas que correm o dia inteiro com a pressa que chegue a noite para que possam descansar.
Passam dias inteiros sem ver os seus próprios pés, pois a gravidade não lhes permite fazê-lo antes do corpo portador se decidir a descansar.
As lágrimas.
São lágrimas em vão.
É chuva que cai no chão.
Não se aproveitam, não se reciclam.
Abraçam-se ao globo ocular, escorregando de seguida.
Repetem o procedimento vezes sem conta.
Talvez por esquecimento, talvez por teimosia.
Talvez por quererem acreditar que é possível agarrá-lo e não voltar a cair.
O olho de vidro co-habita com o corpo humano.
Apesar de se tornar parte dele, marca sempre a sua posição, tal qual um cubo de gelo.
Frio, imóvel, intacto, alheio a movimentos à sua volta.
Indiferente aos restantes habitantes do mesmo, de modo a que a sua não manifestação de sentimentos ou opiniões, não se possam virar contra ele como uma faca de dois gumes, e que isto faça com que o corpo o cuspa para fora.
Limita-se a estar, e a viver no seu egoísmo.
Faz-me crer que tudo o que é irracional e inanimado é facilmente comparável à suposta identidade, individualidade, independência e racionalidade do ser humano.
São longas pestanas, em olhos de vidro.
Pestanas que correm o dia inteiro com a pressa que chegue a noite para que possam descansar.
Passam dias inteiros sem ver os seus próprios pés, pois a gravidade não lhes permite fazê-lo antes do corpo portador se decidir a descansar.
As lágrimas.
São lágrimas em vão.
É chuva que cai no chão.
Não se aproveitam, não se reciclam.
Abraçam-se ao globo ocular, escorregando de seguida.
Repetem o procedimento vezes sem conta.
Talvez por esquecimento, talvez por teimosia.
Talvez por quererem acreditar que é possível agarrá-lo e não voltar a cair.
O olho de vidro co-habita com o corpo humano.
Apesar de se tornar parte dele, marca sempre a sua posição, tal qual um cubo de gelo.
Frio, imóvel, intacto, alheio a movimentos à sua volta.
Indiferente aos restantes habitantes do mesmo, de modo a que a sua não manifestação de sentimentos ou opiniões, não se possam virar contra ele como uma faca de dois gumes, e que isto faça com que o corpo o cuspa para fora.
Limita-se a estar, e a viver no seu egoísmo.
Faz-me crer que tudo o que é irracional e inanimado é facilmente comparável à suposta identidade, individualidade, independência e racionalidade do ser humano.
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